terça-feira, 24 de março de 2009

A natureza humana

A expressão “natureza humana” aparece dez vezes nos dezessete primeiros versos de Romanos 8, na Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Essas palavras referem-se aos pendores naturais do ser humano -- como ele vive, age, reage e se comporta em qualquer lugar, tempo, etnia (ou raça) e cultura.

Há anos várias ciências estudam a natureza humana -- a antropologia, a biologia, a psicologia, a sociologia, a filosofia, a teologia, a linguística --, cada uma com suas próprias explicações, respostas e conclusões.

Cientistas, escritores, artistas, jornalistas e religiosos -- todos referem-se à natureza humana, pois ela é sempre estranha, confusa e preocupante. Deixada à vontade, ela é capaz de causar grandes estragos, quase sempre irreversíveis. A obrigação imposta por Jesus Cristo de negar-se a si mesmo é o único dique capaz de barrar os impulsos negativos da natureza humana (Mc 8.34).

Em última análise, a natureza humana é responsável por todas as desgraças que têm assolado a sociedade, desde a incorrigível injustiça social até a sucessão interminável de conflitos bélicos. Ela explica também o feminicídio, “termo cunhado para denominar a eliminação sistemática de mulheres”. O mais constrangedor é que, conforme a Organização Mundial de Saúde, 70% das mulheres assassinadas são vítimas de seus próprios companheiros.

É a natureza humana indomável que explica tanto o que aconteceu em Joaçaba, SC, como o que aconteceu em Viçosa, MG, em outubro de 2008. No primeiro caso, dois jovens de 18 anos e um de 16 estupraram uma menina de 15. Eles filmaram o ocorrido e divulgaram as imagens pela internet. No segundo caso, um idoso de 74 anos estuprou uma menina de 10 e manteve contatos voluptuosos com outra de 9. A natureza humana negativa está presente tanto em jovens quanto em idosos, tanto em famílias de classe média (caso dos rapazes de Joaçaba) quanto nas de classe pobre (caso do aposentado de Viçosa). São esses acontecimentos que levam certas pessoas a pôr a mão na ferida humana.

Em entrevista à “Folha de São Paulo”, o psicanalista britânico Adam Phillips disse que “pessoas que parecem normais podem ser mais loucas que os loucos”. O jornalista Lúcio Sant’Ana propõe: “Independentemente da teoria mais correta, certo é que o homem, em qualquer tempo, é mau por natureza. É um predador que apenas entende de valorizar suas vontades e desejos. Como centro de um microuniverso, o homem persegue suas ambições e não encontra limites para elas”.

No que diz respeito à natureza humana, nenhuma análise é mais esclarecedora e lúcida que a da teologia. Ela trata do assunto de forma ampla. A natureza humana está contaminada e dominada pelo mal, embora não tenha perdido por completo alguns lampejos do bem. O ser humano foi criado santo por Deus, mas caiu dessa posição com o pecado de Adão: “Por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores” (Rm 5.19). O primeiro pecado afetou toda a raça humana. Imediatamente após a queda, houve inveja, ciúme, raiva, orgulho, violência, mentira e insolência, estranha bagagem que todos carregamos dentro de nós e que só não sairá de lá se trancarmos todas as portas, de modo decisivo e contínuo. Pelo menos os cristãos têm a obrigação de não viverem de acordo com sua natureza humana. Eles precisam viver de acordo com o Espírito de Deus, que habita neles (Rm 8.13).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CONTADOR DE VISITAS